Se as paredes do governo de Dilma Rousseff já ameaçavam ruir com a mistura das crises econômica, ética e política, com a homologação pelo Supremo Tribunal Federal da delação do ex-líder do governo Delcídio Amaral (PT-MS) é difícil imaginar que elas ficarão de pé.
O que Delcídio revelou ao Ministério Público atinge o coração do governo. De acordo com reportagem da revista "Veja", o ex-líder entregou gravações feitas por um assessor de sua confiança de conversas que teve com o ministro Aloízio Mercadante (Educação), nos quais este, em nome do governo, ofereceu ao senador ajuda financeira, política e jurídica para que não fizesse a delação premiada. Teria prometido também influenciar decisão do presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, de forma a conceder habeas corpus ao senador.
Delcídio foi preso em novembro justamente porque, numa conversa gravada por um filho de Nestor Cerveró, falava de um plano de fuga para evitar que o ex-diretor da Petrobrás fizesse a delação. E prometia usar seu prestígio de congressista para influenciar ministros do Supremo num futuro habeas corpus. Tudo igualzinho.
É quase certo que todo mundo vai negar que Mercadante tenha falado em nome da presidente da República. Mas não se pode esquecer que o atual ministro da Educação é uma das pessoas mais próximas de Dilma, seu conselheiro pessoal, seu companheiro de viagens, seu camarada. Como Delcídio, no tempo em que era líder do governo, Mercadante é da cozinha de dois palácios: o do Planalto, onde a presidente despacha, e da Alvorada, onde Dilma mora e faz as reuniões que tratam dos assuntos mais cabeludos.
O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, considerou um ato de vingança a delação premiada de Delcídio. Disse que, quando ministro da Justiça, era o ex-líder quem passava o dia todo pedindo que exercesse um controle sobre as investigações da Polícia Federal.
É um argumento fraco na defesa do governo. Primeiro, porque não tira o valor da delação. Segundo, porque acaba por se voltar contra o próprio Cardozo. Se na função de ministro da Justiça ele sofria pressão por parte do senador Delcídio, que era também líder do governo, poderia ter determinado que o assunto parasse por ali. Afinal, eram duas autoridades, uma no papel de líder e outra na de chefe da Polícia Federal. Ao se sentir incomodado, poderia advertir o interlocutor quanto à possível ilegalidade cometida naquela conversa esquisita.
As consequências políticas da delação de Delcídio, principalmente por causa da revelação do teor da proposta de Mercadante, são explosivas. Tanto para a presidente e o processo de impeachment, que a cada hora parece ganhar mais força, quanto para o ex-presidente Lula, que negocia a entrada no ministério.
Se demorar a aceitar o convite para ser ministro, Lula corre o risco de não encontrar mais a casa do governo. Só os escombros.
João Domingos é coordenador do serviço Análise Política, do Broadcast Político.
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