Com as prisões do empresário Ronan Maria Pinto e do ex-secretário do PT Sílvio Pereira, a PF se aproxima de um homicídio que assombra o Partido dos Trabalhadores
A história deu voltas – e no mar de lama do PT, do presente, acaba de desaguar o mar de lama do PT, do passado. A 27ª etapa da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal na sexta-feira 1 e batizada de “Carbono 14”, chegou ao cadáver de Celso Daniel, ex-prefeito da cidade paulista de Santo André, sequestrado e assassinado em 2002. O motivo de sua morte foi a insistência em denunciar o esquema de corrupção que envolvia o setor de transportes na cidade, gatunagem montada e explorada pelo empresário Ronan Maria Pinto, um dos presos de sexta-feira. O outro a receber voz de prisão é Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, condenado no escândalo do “mensalão” (o famoso Sílvinho da Land Rover). A “Carbono 14” também conduziu coercitivamente para prestarem depoimentos à PF o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares (personagem central do “Mensalão”) e o jornalista Breno Altman, responsável pela apresentação de Sílvio Pereira a Ronan. Essa apresentação é a célula-mãe que poderá definitivamente trazer ao País a verdade sobre Celso Daniel.
EM AÇÃO
PF cumpre mandado de busca e apreensão na sede do jornal de Ronan (à esq.),
preso com Sílvio Pereira: delação premiada à vista
Já está comprovado que o fazendeiro, empresário e amigo íntimo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai, intermediou um empréstimo de R$ 12 milhões do Banco Schahin para o PT – e, em contrapartida, ganhou da Petrobras um contrato (ainda em vigor) no valor de R$ 1,6 bilhão na operação do navio-sonda Vitória. Dos R$ 12 milhões, o próprio Bumlai admitiu em seu depoimento que 50% foram repassados ao Partido dos Trabalhadores para pagamento de dívidas de campanha. Sabe-se agora que os outros R$ 6 milhões engrossaram a conta bancária de Ronan por intermediação de uma complexa rede que passa por Sílvio Pereira. Com parte desse dinheiro o empresário comprou o “Diário do Grande ABC”, um dos principais jornais de São Paulo. Corria o ano de 2004, o escândalo do “Mensalão” estourou em 2005, na sequência veio o “Petrolão”. Todos os personagens vão se entrelaçando, tudo é lama petista misturada, a quadrilha é grande demais.
CRIME
O corpo do ex-prefeito Celso Daniel, na estrada de Juquitiba: ele morreu
porque quis denunciar a corrupção do PT em Santo André
A principal questão que agora a Lava Jato se coloca é: por que os R$ 6 milhões desembarcaram nas mãos de Ronan? A resposta está em depoimento do publicitário Marcos Valério. O ex-presidente Lula, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, Sílvio Pereira e o ex-secretário de governo Gilberto Carvalho estavam sendo extorquidos pelo agora proprietário do “Diário do Grande ABC”. E qual era a “arma” de Ronan para extorqui-los? Simplesmente contar toda a verdade a respeito do assassinato de Celso Daniel e sobre o envolvimento do PT nesse crime. O ex-prefeito foi sequestrado quando saía de um restaurante em São Paulo, no carro dirigido pelo amigo e braço-direito político, Sérgio Gomes da Silva, apelidado de “Sombra”. Horas depois o seu corpo foi localizado numa estrada da cidade de Juquitiba. Quando preso no “Mensalão”, Sílvio Pereira colaborou com a Justiça e sua pena foi abrandada para prestação de serviços comunitários – e o problema era uma Land Rover ganha ilicitamente. Pouca dúvida resta que ele colaborará novamente agora quando há um assassinato a assombrá-lo. A Lava Jato chegou assim ao cadáver de Celso Daniel.
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