O empresário José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, outro empreiteiro que prosperou nos anos de governo petista e sucumbiu a golpes de Lava Jato, está prestes a fechar um acordo de delação premiada com os procuradores da Força Tarefa, em Curitiba, conforme ÉPOCA revelou. Antunes é o engenheiro que sabe demais. Na proposta, ele implica o senador Renan Calheiros (PMDB), o vice-presidente Michel Temer (PMDB), o ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo, Edinho Silva, a ex-ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula Erenice Guerra e o ex-marido da presidente Dilma Rousseff, Carlos Araújo. Agora, ÉPOCA descobriu que o ex-deputado Valdemar Costa Neto, dono do PR, também está nela. Antunes promete escrever novo capitulo na já extensa biografia criminal de Valdemar, um aliado do PT condenado a dez anos de prisão por sua participação em outro escândalo, o do mensalão, e que não pode sair de perto de um quarto de hotel, em Brasília, porque ainda cumpre pena.
Na proposta de delação a que ÉPOCA teve acesso com exclusividade, Antunes afirma que Valdemar Costa Neto e o seu PR receberam da Engevix pelo menos R$ 2,5 milhões em propinas. O dinheiro foi pago, segundo ele, entre 2007 e 2011. A viabilidade do esquema surgiu da influência que o PR tinha em Furnas, a empresa de economia mista e capital fechado, que é controlada pela estatal Eletrobrás. Os cinco anos mencionados por Antunes coincidem com o período em que Mario Marcio Rogar comandou a diretoria de engenharia de Furnas. Engenheiro pós-graduado, o curitibano Marcio Rogar ingressou em Furnas em 1975 e ascendeu ao posto máximo na unidade de engenharia em 2006. Subiu ao comando da diretoria por indicação do PR de Valdemar Costa Neto e o PMDB de Eduardo Cunha. Rogar caiu em 2011 porque o PR se afastou de Dilma Rousseff. O PR, segundo Antunes, cobrava 3,5% em propina nos contratos de Furnas.
Valdemar Costa Neto fora mencionado em outras duas ocasiões por delatores da Lava Jato. O ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa foi o primeiro a citar que aliados de Valdemar estavam envolvidos no esquema. Em março de 2015, Paulo Roberto declarou à Justiça que procurou empresas que atuavam nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) para pedir doações para o caixa 2 à campanha de reeleição do governador Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, os dois peemedebistas, em 2010. O total cooptado atingiu R$ 30 milhões. Metade desse valor saiu das empresas Skanska, Alusa e UTC. O representante da Skanska, Cláudio Lima, era próximo de Valdemar, de acordo com Costa.
O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, foi o primeiro a trazer o nome de Valdemar diretamente para o radar da Lava Jato, em julho. Aos investigadores, Pessoa apresentou documentos que atestavam o pagamento de R$ 16,6 milhões em doações e propinas a políticos compadres, entre 2006 e 2014. Tudo com verba desviada da Petrobras. "Por fora", como disse Pessoa, cerca de R$ 200 mil abasteceram diretamente Valdemar. Por dentro, R$ 300 mil alimentaram o PR por meio de doações legais na campanha de 2010. Segundo Ricardo Pessoa, era fundamental distribuir as vantagens ilícitas a Valdemar e o PR. Tudo para manter as portas abertas - leia-se as possibilidades de garantir os contratos - da empreiteira Engevix com o ministério dos Transportes. O ministério era controlado pelo PR de Valdemar. Agora, sabe-se que outro empreiteiro, numa outra estatal e novamente com dinheiro ilícito promete atingir o mesmo Valdemar e o mesmo PR no mesmíssimo esquema de desvios investigados pela Lava Jato.
Da mesma forma que Ricardo Pessoa queria manter as portas da UTC abertas com o governo, a Engevix de Antunes buscou trânsito livre em Furnas. Antunes afirma que deveria pagar propina equivalente a 3,5% dos valores líquidos dos contratos entre Furnas e a construtora. O dinheiro seria repassado a Valdemar Costa Neto e o PR, porque o comando da diretoria era exercido por Marcio Rogar. Quem operou o esquema nesses cinco anos com a Engevix foi alguém que Antunes se recorda apenas como “Nurimar”. Esse operador ainda despacha de um endereço nobre em Ipanema, no Rio - Antunes diz que entregará o endereço à força-tarefa da Lava Jato. Ali funciona uma casa de câmbio e agência de turismo, a Gradual Turismo. E Nurimar é um de seus funcionários, conforme ÉPOCA apurou..
Há indícios de que Atunes sabe do que fala. A Gradual Turismo já apareceu na Lava Jato. Num despacho assinado em março, o juiz Sergio Moro determinou que houvesse uma busca e apreensão na Gradual Turismo, na sua unidade em Salvador. Moro queria descobrir as pistas reveladas por Maria Lúcia Guimarães Tavares, secretária das operações secretas da Odebrecht para o pagamento de propina a políticos. Ela havia dito em sua colaboração premiada que a Odebrecht se valia de “prestadores de serviços” para obter dinheiro - então repassado aos interessados políticos. Uma das "prestadoras de serviço" que operavam o dinheiro com a Odebrecht era justamente a Gradual Turismo de Salvador. Tanto esta unidade como a agência do Rio têm um mesmo dono, Jorge José Netto.
Os segredos de Antunes poderão abrir novas frentes de investigação sobre as relações da Envegix com as estatais envolvidas no petrolão, e estas com Valdemar Costa Neto e o PR. Durante a campanha presidencial de 2014, o PR foi patrocinado pela Engevix. A empreiteira doou R$ 300 mil ao partido no caixa 1 – aquele que consta da lista oficial de doadores da Justiça Eleitoral. Outros R$ 2 milhões foram obtidos da Ecovix-Engevix, uma subsidiária da empreiteira. Dentre as doações das construtoras ao PR - as mais generosas nessas ocasiões - as realizadas pela Engevix só não superaram as da OAS (R$ 3 milhões) e da UTC de Ricardo Pessoa (R$ 2,5 milhões).
Marcelo Bessa, advogado do ex-deputado Valdemar Costa Neto, disse que não comentaria a proposta de delação. Em nota, o PR afirma que o partido e o ex-deputado não comentam afirmações originadas nas delações premiadas e que não comentam iniciativas da justiça. O partido diz que as doações em dinheiro recebidas foram registradas na Justiça Eleitoral. Procurado, o ex-diretor de engenharia de Furnas Mario Marcio Rogar limitou-se a afirmar que foi indicado ao posto por Aloísio Vasconcelos, até 2007 presidente da Eletrobrás, que controla Furnas. O dono da Gradual Turismo, Jorge José Netto, afirmou por meio de uma funcionária da empresa que desconhece as informações contidas na delação de Antunes. Sobre Nurimar, a funcionária limitou-se a informar que ele trabalha ali. Ela não confirmou quando Nurimar começou a trabalhar na empresa nem seu sobrenome.
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